segunda-feira, 20 de julho de 2015

EXCERTO

(excerto em bruto do texto que escrevo...)

O Zé da Tina assoa o nariz. Como há manchas vermelhas na manga do pijama e no bordo do lençol e muco na gola e resquícios no queixo, o meu nariz fica enfastiado. Engulo o vómito que ele me provocou e tiro o suor da testa. Ele chupa-me o sentimento. Por isso, as mãos dele procuram nojo nas partes ocultas. O embate torna-se inevitável. A sequela disso é irracional porque os braços parecem hélices com nervos nas pontas. Perto do fim, um pedaço gordo desprende-se da mão. Faz uma viagem sem turbulências, sem desvios, e aterra, com distinção, nos cabelos dos Carga de Ossos. Fico mudo, mas os ouvidos fotografam a voz do vulcão que expele montanhas para o Zé da Tina. A cama articulada é por isso uma base murcha, com água a circular pelo meio. Para evitar anomalias no futuro, coloco o corpo a fazer de muro e atiro placidez aos nervos. Eles cospem-me impropérios, lançam-me farpas e amansam quando insisto. Porém, dizem à tristeza que, para a próxima, o guarda-chuva será aberto porque não querem ter mais bronquite no cabelo. O tiro foi doloroso. E o Zé da Tina, com o peito ferido, enrijece os músculos. Depois dá pinchos histéricos, dá bofetadas a tudo e dá nervos à língua. Quando os dentes perdem a força, há palavras que são armas e há frases que são bombas: “Cabeças de arroz”, “Formigas caquécticas”, “Vou enfiar-vos o guarda-chuva no olho do…”, “Chega”, grito-lhe, “Chega. Ouviste? Chega. A discussão termina agora”, e olho para os Carga de Ossos. O peso da ordem submete-os ao pudor camuflado pelo cabelo.

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